A maior demanda por posicionamento das organizações exige uma reflexão estratégica para evitar o
greenwashing
O contexto atual apresenta novos desafios e oportunidades para as empresas que desejam construir uma estratégia ESG (Environmental, Social and Governance - Ambiental, Social e Governança). Embora a pandemia já não seja um fator predominante, questões como sustentabilidade, diversidade e governança continuam ganhando destaque na agenda empresarial. Nesse sentido, é importante aproveitar esse momento para abordar questões fundamentais que promovam mudanças positivas na sociedade.
Com a crescente visibilidade do tema ESG nos meios de comunicação, é comum que haja certa confusão sobre o que esse conceito realmente significa. A sigla está por todos os lados e, com isso, muitas dúvidas sobre como endereçar as questões sociais, ambientais e de governança dentro das organizações.
Embora tenham origens distintas, a sustentabilidade e o ESG caminham na mesma direção. Sem aprofundar em conceitos, a primeira tem origem no CSR (Corporate Social Responsibility - Responsabilidade Social Corporativa), que teve início nos EUA no início da década de 1970 por meio de publicações do CED (Committee for Economic Development - Comitê para Desenvolvimento Econômico). Essas publicações enfatizavam que os negócios e empresas deveriam comprometer-se com a sociedade sob outras perspectivas, inclusive a do bem-estar social.
Por outro lado, a origem do ESG está relacionada ao SRI (Socially Responsible Investing ou Sustainable & Responsible Investing), que também surgiu na década de 1970. Esse movimento foi impulsionado por uma reivindicação contra a gigante General Motors e levou a SEC (Securities Exchange Commission, a CVM dos Estados Unidos) a incorporar aspectos sociais (e posteriormente ambientais) em suas análises. Portanto, embora a sustentabilidade tenha suas raízes no CSR e o ESG tenha se originado do SRI, ambos estão alinhados na busca por práticas empresariais mais responsáveis social e ambientalmente.
O termo teve sua primeira menção em 2004 na publicação do Pacto Global chamada "Who Cares Wins - Connecting Financial Markets to a Changing World" e representa um modelo de integração dos aspectos ambientais, sociais e de governança nas decisões de investimento do setor financeiro e do mercado de capitais.
A pesquisa "Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais", realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), classificou cinco padrões de comportamento, desde desconfiado até engajado, em relação à pauta ESG. Isso significa que algumas gestoras de recursos brasileiras enxergam a agenda como uma ameaça, enquanto outras a veem como uma estratégia de ação, como um compromisso a seguir e manter (nas duas categorias mais avançadas no tema são quase 30% das gestoras respondentes).
Além disso, é importante destacar que a agenda ESG tem impactado o panorama dos investimentos financeiros. De acordo com o Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) e seu relatório "Global Sustainable Investment Review 2020" (GSIR), no início de 2020, o investimento sustentável global alcançou o valor de US$ 35,3 trilhões nos cinco principais mercados abordados pelo relatório (Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália + Nova Zelândia). Isso representa um aumento de 15% em um período de dois anos (2018-2020) e 55% em um período de quatro anos (2016-2020).
Se há mais investidores interessados em empresas com práticas mais avançadas, qual é o caminho para as organizações que desejam incorporar a agenda ESG em seus negócios e estar aptas a receber esses investimentos? Sem a intenção de esgotar a discussão, aqui estão sugeridos seis primeiros passos para que uma empresa, de qualquer tamanho e setor, possa começar:
Vale a pena embarcar genuinamente nessa jornada, pois estudos mostram que não fazer é pior que fazer de forma equivocada. Um exemplo é um estudo publicado em 2015 por Friede et al., que mostrou uma correlação positiva de 63% entre as práticas ESG e o retorno sobre investimentos. Ele concluiu que a "orientação para investimentos responsáveis a longo prazo deve ser importante para todos os tipos de investidores racionais, a fim de cumprir seus deveres fiduciários e pode alinhar melhor os interesses dos investidores com os objetivos mais amplos da sociedade" (G. Friede et al., 2015, p. 227).
O ESG, como entendemos hoje, tornou-se uma tendência nos mercados e em diversos setores. Atualmente, existem ferramentas e empresas capacitadas que podem auxiliar nessa jornada. Se a sua empresa ainda não começou, é o momento ideal para iniciar. Não deixe para depois, pois a importância do ESG só cresce e é essencial para garantir a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo dos negócios.
*Felipe Nestrovsky é sócio-diretor e Melissa Rizzo Battistella é gerente de Consultoria ESG para Empresas na NINT.